quarta-feira, 21 de setembro de 2011

BaixoNatural Entrevista: Exclusiva com Ney Neto

Por Ariel 'Nog' Andrade

Se fosse para citar um grande nome no contrabaixo brasileiro e que tem ajudado tanto no desenvolvimento deste tão maravilhoso instrumento nos últimos anos, sem dúvidas, eu citaria Ney Neto. Dono de um carisma imenso, nos recebeu muito bem e graças a sua aceitação trazemos agora para você leitor do BaixoNatural uma entrevista exclusiva com ele.


Desde já agradecemos a oportunidade de entrevistar você Ney...Vamo lá!




1) Conte pra gente um pouco lá do seu inicio de carreira....como começou esse amor e dedicação ao contrabaixo?

Ney Neto - Bem, no começo da década de 90 eu curtia Guns and Roses, Metallica, Iron Maiden, e rock nacional também. Mais tarde Dream Theater, Pearl Jam. Sempre fui meio roqueiro, apesar de amar jazz há muito tempo. Meu primo Thiago Martins foi quem começou a me passar os primeiros acordes ao violão e eu lembro que era bem difícil pra mim porque ele é canhoto e as cordas ficavam invertidas pra mim. Mas foi assim que comecei a tocar, com um violão com a Mizinha em cima e o Mizão embaixo. Enlouqueci com aquilo e tocava até machucar os dedos. Depois de um ano tocando o Thiago resolveu montar uma banda de metal cover e a vaga que tinha disponível era a de baixista. Acho que essa história é meio comum a vários baixistas. O que aconteceu foi que me apaixonei pelo baixo de tal forma que nunca mais estudei o violão... hahaha, ainda bem!


2) Muitos dos grandes nomes no contrabaixo mundial hoje, quando perguntados sobre sua “formação”, sua “educação musical” dizem que aprenderam de diversas formas diferentes da escola de música. Qual a sua opinião sobre a obrigatoriedade do músico freqüentar uma escola regular de música? Achas fundamental hoje em dia?


Ney Neto - Não acho fundamental. Acho bom, mas não fundamental. Seria melhor ainda se o cenário fosse diferente. Infelizmente o que ocorre aqui no Brasil é que não temos uma boa estrutura para o ensino de música. A coisa é mais vista como um business por aqui do que como a ciência de ensinar a arte. 

Então como posso obrigar o músico a fazer um curso de formação se não forneço a estrutura necessária, nem as condições mínimas para isso. Acho que tudo tem que ser visto de dois pontos de vistas distintos. A partir do momento que se faz uma exigência, é necessário oferecer uma contrapartida.



3) Nos conte um pouco sobre seus projetos atuais, O que Ney Neto anda fazendo em sua carreira?

Ney Neto - Wow! No momento estou contratando uma pessoa pra me ajudar a organizar datas, pagamentos, recebimentos, reuniões, agendas, notas fiscais, contratos...minha vida está uma loucura. 2011 já acabou pra mim. Não posso mais assumir nenhum compromisso, não poderei atender. Isso é bom, eu acho!  Me dá uma certa estabilidade. 
Minha carreira é bem constante, uma média de dois shows por semana, aulas a cada quinze dias para poucos alunos, algumas gravações bem legais, muitas viagens, workshops no Brasil todo, aulas em escolas e faculdades de música fora do Brasil, gravações com artistas interessantes.
Por opção, tenho evitado abraçar um gig grande, viajar, cair na estrada. Tenho me dedicado um pouco mais a música instrumental agora, divulgando o trabalho do Brisa Trio. A maioria das viagens que tenho marcadas estão relacionadas a este trabalho e não ao trabalho como side-man.  Eu considero um privilégio ser convidado para tocar música instrumental em outro país. O Brisa Trio tem gigs fechadas e convites para shows em Boston, Chicago, Los Angeles, Buenos Aires e recentemente em Nápoli, na Itália...tem sido muito bacana!


4) Qual o seu setup atual? Tanto em gigs ao vivo quanto em estúdio (Baixos, amps e pedais)


Ney Neto - Pedais = zero! Desisti! Rompi um contrato que tinha com uma marca nacional de fabricação de pedais-boutique. Cara, percebi que não consigo!, Ou eu toco baixo ou piso nos pedais. Rs.... Adoro efeitos, acho os timbres que a galera tira muito legais, mas meu cérebro não permite coordenar tantas funções ao mesmo tempo...hahahha...até porque eu me mexo, danço e falo mais que a maioria dos outros baixistas durante meus shows. O compromisso de pisar no pedal no momento “X”, “Y”de uma música já me derrubou algumas vezes. Sabe aquela coisa? Devia estar com o baixo limpro pra conduzir e fui pro groove com o oitavador acionado? Então, já fiz isso. E outras coisas engraçadas tipo sair tocando acorde no baixo de seis com o octave-up ligado na pedaleira, parecia o som de um teclado ruim e eu queria soar como uma guitarra jazz, mas em vez de acionar o chorus que ficava no foot dois eu pisei na posição 3 do pedal board. Aí desisti!


Amps: Sou endorser da Snake (www.snakepro.com.br) ... eles estão lançando na ExpoMusic 2011 um cabeçote para baixo que é muito porrada. Participei do projeto desde o início de sua concepção e ainda hoje fico na Snake tocando pros caras fazerem equalizações, cortes, e colaboro para chegarmos a um belo timbre. Tem sido um prazer fazer esse trabalho porque os caras da Snake são geniais e tem muito cuidado com a qualidade. Além desse head, utilizo as caixas da Snake, que dispensam comentários.

Meus baixos são do luthier Pablo, de Goiânia, da SJ Guitars ( www.sjguitars.com.br ). O Pablo é um artista na fabricação do instrumento e só trabalha com hardware e madeira da melhor qualidade no mundo. Já tive a oportunidade de visitar a fábrica da Fodera em N. York e conversar com o Vinnie Fodera e com o Joe Lauricella. O Joe queria que eu trouxesse para o Brasil um 4 cordas que eles tinham pronto na fábrica quando estive lá...Mas não trouxe! Sinceramente, os baixos da SJ não devem nadinha aos gringos. 

Bem, para comentar outras marcas que fazem meu som: as cordas que utilizo são SG Strings: www.sgstrings.com.br e sou endorser também da Power Click (in ear monitor) e das correias da Basso, na minha opinião as melhores do mercado.



5) Falando em shows ao vivo, acabastes de chegar de mais uma edição do já consagrado IB&T BASS FESTIVAL desta vez ocorrido em Minas Gerais. Como foi a experiência de tocar neste festival com tantas feras do contrabaixo fazendo Belo Horizonte tremer?

Ney Neto - Faz cinco anos que viajo o país no circuito de festival de baixo. Eu me sinto honrado porque lembro que eu comprava as revistas de baixo na banca e ficava vendo aqueles baixistas que tocavam nos festivais e pensava:  puxa, um dia eu queria tocar num evento desses, aparecer nessa revista. Então em 2007 o Nilton Wood me convidou como artista revelação do Festival de São Paulo, que naquela época era o maior do circuito. Eu abri o festival com um quarteto e lembro que tremia dos pés à cabeça. 


Hoje esses caras todos são meus amigos e nos encontramos o tempo todo dentro desse cenário.


Agora falando especificamente do Festival de BH: Foi inesquecível! O show na sexta-feira foi lindo, mas pra mim particularmente teve um apelo emocional muito forte, tinha pessoas realmente especiais ali na platéia. Amigos de verdade num momento de exaltação da boa música. Além disso teve uma turminha que saiu aqui de Sampa e viajou pra BH pra me assistir, chegou perto da hora do show... pessoas que mesmo se um dia estiverem longes serão sempre especiais. Eu quis dar o meu melhor, e acho que o show foi bem legal. Depois fiquei na cidade e tive um fim de semana, daqueles que quando eu for velho vou me lembrar com alegria, na companhia dessa turma do bem. Incrível! 


Sério, se desse pra dar replay eu apertava o botão uma vez por semana.  
“É aqui que eu amo
É aqui que eu quero ficar
Pois não há á á!
Lugar melhor que BH...”



6) É visível com a realização destes festivais o grande número de ótimos baixistas em nosso País. Quais te chamam mais a atenção? Quais você destacaria desta “nova safra” de baixistas??



Ney Neto - Eu curto todo mundo que assisto nos festivais. Sério, acho o nível altíssimo e se o cara está no festival é porque o som é bom. Garantido! Acho que o Pipoquinha por ter quinze anos e tocar daquele jeito merece um destaque especial. Mas tem uma galera sensacional. Gosto muito do som do Braulio Araujo, Thiago Espirito Santo, e tantos outros. Mas adoro também quando encontro a galera da “velha safra”...rs como o Arthur Maia, Pixinga, Adriano Giffoni, os caras são demais! É sempre bom ouvir.



7) Na sua opinião qual disco que não pode sair do Ipod de qualquer baixista?


Ney Neto: 

Wake Up – 1996 – Celso Pixinga

Sonora – 1996 – Arthur Maia
M2 – 2002 – Marcus Miller
Jaco – 1976 – Jaco Pastorius 
e outros vários ...


8) Quais os planos para sua carreira em um futuro próximo?


Ney Neto - Preciso terminar de escrever meu método de contrabaixo, já estou atrasado com isso. Também preciso lançar meu site, só está faltando eu terminar de escrever alguns textos, o resto tá tudo pronto.

E também gostaria de terminar meu disco ainda este ano, já são dois anos gravando, mas não sei se conseguirei, está muito corrido ultimamente e nesses três meses que faltam para acabar o ano ficarei quase quarenta dias viajando. Acho que fica pra 2012. Infelizmente!  Nesse disco toco com Mike Stern, Jeff Andrews, Dave Weckl, Joe Lovano, Grant, Jim Stinnett, Michael Manring, Todd Johnson, Ricardo Ascanni, Brisa Trio, Ale Demogli, Thiago Espirito Santo, Martin Schaberl, um mooonte de músico brazuca do primeiro escalão. Não vejo a hora de terminar, mas ainda tem bastante trabalho, embora tenha muita coisa já gravada.


9) Outra grande discussão presente no mundo do contrabaixo é a questão Marcas gringas consagradas versus baixos hand made nacionais. Qual você prefere? O que acha da produção nacional? Acha que os modelos hand made nacionais ainda perdem para os modelos clássicos gringos?

Ney Neto - Hahaha, sem querer já respondi essa pergunta quando falava sobre meu setup. Sou a favor de utilizar instrumentos produzidos no Brasil, mais baratos  e com a mesma qualidade. Não acho que os BONS hand-mades percam em nada pros gringos, muito pelo contrário, até ganham algumas vezes.  Acho que fazer a escolha de instrumento baseado no glamour da marca é uma bobagem. Se é pra gastar grana pra ter um instrumento gringo, compro um vintage! Um Fender, Alembic...eu jamais pagaria uma bolada por um baixo importado novinho, captação ativa, com um hardware que eu poderia comprar e montar o baixo aqui mesmo.



10) 4, 5 ou 6 cordas? E Por que?

Ney Neto - Todos!

4 pra groovar numa onda mais vintage, tocar slap... Delícia!
5 pra trabalhos de side-man, gravações!
6 pra solo, música instrumental, tocar acorde... 
e misturar tudo também: slap no de 6, solo no de 5 e side-man com o de quatro. Acho que cada baixo tem uma vibe diferente de tocar.
Dá mais trabalho manter a técnica em dia quando você toca muitos instrumentos diferentes. No meu caso ainda tenho um vertical e um fretless, que têm técnicas completamente diferentes. Estudo mais de acordo com os próximos trabalhos que tenho. Agora, por causa do Brisa Trio, tenho andado por aí com meu fretless 4 cordas e o SJ  6 cordas.


11) Deixe um recado para os leitores do Baixonatural, em especial para os jovens baixistas.

Ney Neto - “Antes de ser um grande músico, você precisa se tornar um grande ser-humano.” Charlie Haden

Humildade, preconceito zero, vontade de aprender, respeito, nada de competição, generosidade... têm tanta coisa que fui aprendendo na estrada. Mas acho que essa frase do Haden resume bem todas elas. Hoje procuro andar “No caminho do bem”. Vamos nessa que vale a pena! E viva a música de qualidade!


Um abraço!
Ney

O baixoNatural agradece a oportunidade...

Você pode encontrar mais de Ney Neto na web em: http://www.myspace.com/neynetobass

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